sábado, 11 de novembro de 2006

Vozes na Noite

Ouço gritos, risos
Palavras soltas sem uma frase final
Barulhos de carros
Passando pela rua de mão única
Ronca os seus motores no embalo de uma canção metálica
Ao longe, ouço a prece dos crentes:
Crentes que com o seu grito
Irá chamar os pagãos para a Igreja verdadeira.

Quero não ouvir mais nada.
Impossível se torna este meu desejo
Quando percebo a perfeita ligação
Dos ruídos com a vida
Com o prazer das pessoas de encontrar os amigos na rua
E com a fé de louvar mais alto a palavra do Senhor.

Não vou mais forçar o meu querer
Tentarei ouvir os sons vindos de fora
Com as mesmas maneiras de um pai
Ouvindo alegre o choro do seu recém-nascido.

O que me incomoda não está lá
Entre os sons de toda esta gente
Está aqui, no meu desespero solitário,
Na disritmia das minhas rimas
E do meu sofreguidão poético.

É claro que encontrarei algo para fazer.
Deliciarei com o frescor
Da manhã que chega
Se chover, melhor ainda,
Estarei vendo o vapor d'água
A pairar os campos molhados aquecidos pelo Sol nascente
E por este enriquecer o consciente.

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